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30 de maio de 2007

Comunicações indiretas

Dia 26, 27 e 28

Li "A chave", de Jun´ichiro Tanizaki, de 1956 (edição brasileira de 2000).
Qual é a motivação que existe para aquele que escreve um diário, onde conta todos sentimentos, os mais íntimos? Será que existe a vontade íntima de ser lido por alguém, especificamente por quem a pessoa nutre aqueles sentimentos íntimos difíceis de serem abordados pessoal e abertamente? E, se não houver a mínima possibilidade de alguém encontrar a chave para poder ler o diário, ainda assim a pessoa o escreveria?
Aos japoneses não é de bom tom expressar idéias de forma muito direta. As comunicações são indiretas.
Meu pai não escreve diário, pelo menos que eu saiba. Mas ele coloca coisas sobre um móvel, perto do qual ele sabe que eu passo. Um livro, um pedaço de papel com algo escrito por alguns de meus irmãos ou por ele mesmo, anotações sobre sua pressão sangüínea, ou qualquer coisa mais prosaica como uma propaganda. Geralmente acabo vendo, claro. Mas não faço ou não falo nada, a não ser que ele comente.
Eu não faço isso com ele, ao menos conscientemente. Mas ele vê coisas que estão sobre minha escrivaninha ou outro lugar, por onde ele passa. Interpreta que deve fazer ou falar algo a respeito apesar de, geralmente, não haver nada a ser feito ou dito.
Muito de nossa comunicação é assim...