Esteja sempre presente. Transforme o fel em mel. Compartilhe somente o que é bom. Seja nada.

28 de junho de 2009

Musashi


O grande samurai Musashi é, para muitos homens japoneses, um ideal a buscar e, para as mulheres, o ideal do companheiro, pelo menos no Japão até há alguns anos. Só não sei como é isso hoje... Foi um "ronin", ou seja, um guerreiro sem o senhor a quem servir, que tinha uma habilidade guerreira inata mas que, com treinamento filosófico baseado na meditação, evoluiu para um ser de grandes percepções e capacidades.

Temos a expectativa de que nosso Musashi, o cão, cresça forte, com grandes habilidades e percepções caninas!



Dokudo - O caminho da Auto-confiança: lista de preceitos de Musashi

  1. Eu nunca ajo contrário à moralidade tradicional.
  2. Eu não sou parcial com nada e nem com ninguém.
  3. Eu nunca tento arrebatar um momento de sossego.
  4. Eu penso humildemente de mim e grandemente para o público.
  5. Sou inteiramente livre de ganância em toda minha vida.
  6. Eu nunca lamento o que já fiz.
  7. Eu nunca invejo a boa sorte dos outros, mesmo estando com má sorte.
  8. Eu nunca aflijo-me por qualquer um, qualquer coisa ou qualquer tempo.
  9. Eu nunca censuro ninguém, ou me censuro para alguém.
  10. Eu nunca sonho em apaixonar-me por uma mulher.
  11. Gostar e não gostar de algo, é um sentimento que não tenho.
  12. Qualquer que seja a minha moradia, eu não tenho nenhuma objeção à ela.
  13. Eu nunca desejo um alimento saboroso.
  14. Eu nunca tenho objetos antigos ou curiosos em meu poder.
  15. Eu nunca faço purificação ou obstinência para proteger-me do mal.
  16. Eu não tenho apreço por nenhum objeto, exceto espadas e outras armas.
  17. Eu nunca daria minha vida por uma causa injusta.
  18. Eu nunca desejo possuir bens que tornem minha velhice confortável.
  19. Eu adoro deuses e budas, mas nunca penso em depender deles.
  20. Eu prefiro me matar a desonrar meu bom nome.
  21. Nunca, nem por um momento sequer, meu coração e minha alma desviaram-se do caminho da espada.

12 de maio de 1645 - Shinmen Musashi (tradução que apareceu no Japanese Sword Society/US newsletter. A tradução em inglês foi feita em 1965 pelo professor Giichiro Ikeda.)

A foto acima é da série realizada pela NHK na década de 80, que é a que mais apreciei.

Leia o livro imperdível (dois volumes). Capa ao lado: volume I.

12 de junho de 2009

Cabelos negros

Eduardo Dusek

Eu quero seus cabelos negros
Nas minhas mãos
Eu quero seus olhinhos ciganos
Nos meus sonhos
Eu quero você minha vida inteira
Como doce mania
Fosse qualquer maneira
Eu queria você assim como é
Sem mentir, nem dizer
O que não quiser
Eu quero você criança
Caída no chão
Eu quero você brilhando
Brincando de mim
Pois eu quis você
Como o sol e as estrelas
Noites de lua
Nostalgia
E vou ter você
Mesmo só pra pensar
Nessas coisas de amar
Na alegria
Eu começo a descobrir
Que em meu coração
Tá nascendo um jardim
Pensando em plantar
Você dentro de mim
Pois preciso lhe ver
Várias vezes florescendo
Nas luas crescentes
Sentir seu perfume
Prá encontrar você

Ouça aqui.

22 de março de 2009

"Retornem o encosto"

Percebi que eu tinha um texto sobre um problema de vôo "campeão" de alguns anos atrás, no auge daquele período de nosso apagão aéreo. Tinha publicado em meu blog velho. Resolvi copiá-lo para cá, apesar de se tratar mais de uma crônica do que uma postagem para blog:

“Retornem o encosto da poltrona para a posição vertical”. Foi o que ouvimos quando aterrissaríamos em Ilhéus, a escala do vôo de Salvador para Congonhas. Senti a aeronave descendo. Mas eu estava sonolenta. Apesar de não estar prestando atenção, percebi que estava demorando muito para aterrissarmos. Então, ouvimos o comandante dizer que estávamos retornando a Salvador pois haviam descoberto um problema no sistema hidráulico que não permitia um pouso seguro no precário aeroporto de Ilhéus. “Nada preocupante. Quando aterrissarmos, deveremos ser rebocados até perto do aeroporto”. Passageiros se puseram inquietos. Ouvi um zum zum zum.

Tudo correu conforme o descrito. Após uma interminável hora após termos tocado o solo, estávamos de volta no salão de embarque do aeroporto, sem sabermos o que aconteceria. Já me imaginei deitada no chão com a cabeça sobre a mala, como vira nas reportagens sobre o apagão aéreo. Muitos passageiros rodeavam qualquer um que tivesse crachá da TAM. Quanto a mim, fiquei sentada, junto com uma moça que também estava sozinha, a Marcela. Uma hora depois, mandaram-nos fazer novo check in, para um vôo das 23h50.

Mais espera, desta vez na fila. A essa altura, muitos de nós já éramos praticamente amigos íntimos. Muitos contaram que tinham tido medo e apreensão, durante a aterrissagem. Não senti nada disso. Não sei se por desconhecimento total das possibilidades existentes de perigo, ou por real despreocupação, na linha: o que tiver que acontecer, acontecerá.

Eu dividia carrinho com a Marcela. As duas senhoras atrás de nós tinham passado ótimos dias na Costa do Sauípe. Quanto a mim, tinha dado aula naquele dia e no dia anterior.

Uma daquelas duas senhoras era impaciente. Ficava de plantão no balcão do check in para ver o que acontecia, tamanha a demora. Alguns passageiros estavam escolhendo outros vôos para o dia seguinte, recebendo voucher para hotel. Ela voltava passando o relatório. Decidi que tentaria voar naquela noite mesmo.

Todas conseguimos nossos novos cartões de embarques e vouchers para comer algo. Comemos rapidamente, as quatro juntas, íntimas. Embarcamos, desejamos boa viagem. Enfim, sentadas novamente, apesar de separadas, cada uma em seus lugares originais do vôo anterior. Ao meu lado, onde no vôo anterior não havia passageiro, sentou-se um rapaz. Ele havia perdido o vôo original por causa de um congestionamento terrível e incomum. Eu também tinha enfrentado o mesmo trânsito. Nunca tinha chegado para um check in tão em cima da hora. Fui uma das últimas a embarcar. A partida tinha sido pontual, às 18h50.

Antes eu tivesse perdido o vôo, pensei... O rapaz chegara poucos instantes após terem fechado as portas da aeronave. Cobraram-lhe R$50,00 para embarcar naquele nosso novo vôo. Mas negociou e pagou R$30,00. Pelo menos eu não tinha tido aquela despesa, repensei eu, desta vez.

“Retornem o encosto da poltrona para a posição vertical”. Foi o que ouvi novamente. Mas, daí a uns momentos, o comandante avisou que chovia forte em Ilhéus e que, por isso, sobrevoaríamos para esperar que a chuva diminuísse. Após um tempo que não consigo saber quanto, pois estava novamente sonolenta, a má notícia: voltaríamos a Salvador! Os passageiros se entreolharam, incrédulos. “Salvador tem cola!”, disse um.

Novo pouso em Salvador. Mandaram-nos permanecer na aeronave. Teríamos de esperar a chuva parar em Ilhéus.

Então, partimos nós, em novo vôo.

“Retornem o encosto da poltrona para a posição vertical”. Desta vez, antes de passar muito tempo, o nosso já íntimo comandante, avisa que vai tentar começar os procedimentos para aterrissagem com instrumentos, mas que ainda poderia haver cancelamento, pois a visibilidade ainda estava ruim. Agora, prestei atenção no comportamento da aeronave. Senti a descida. Ele descia um pouco, depois mantinha a altitude. Descia mais um pouco. Até que começou a descer mais rapidamente quando, enfim, a aeronave deitaria na pista. Mas ela arremeteu... Ela não queria saber da pista!.. Não ouvi nada de ninguém. Silêncio total, nem o comandante falou. Ninguém tinha forças. Apenas quando quase chegávamos de volta à terra do Vinícius, ele disse que sentia muito e que agradecia a compreensão de todos e”Até a próxima”. Percebi que não nos falaria mais. Não voaríamos mais, pelo menos com ele.

Lá fomos todos, de volta ao salão de embarque que agora eu já conhecia bem. Fomos avisados de que seríamos divididos em alguns vôos. Uma opção seria numa aeronave que já estava lá. Ela iria para Guarulhos, com escala em Vitória. Sairia logo, às 4h35, mas só uns vinte passageiros caberiam nele.. “Eu não vou!”, foi o que disse uma daquelas senhoras amigas pois não queriam mais saber de escalas. O outro vôo disponível seria só às 6h30, também para Guarulhos, mas sem escala. Chegaria meia hora depois do anterior.

Sem consultar nenhuma delas, decidi que tentaria o primeiro, só para poder descansar sentada. Mas sabia que idosos e crianças teriam prioridade, minha chance não era das melhores. A Marcela estava em dúvida. Quando me perguntou o que eu faria, contei-lhe minha decisão, não desejando influenciá-la. As duas senhoras souberam de minha decisão e acabaram decidindo o mesmo, assim como a Marcela. Muitos se aglomeravam em torno do comissário, apesar de sem tumultuar. Aquelas duas forçaram mais a passagem para tentar embarcar. Uma moça, mais nervosa, chegou a gritar revoltada com a demora na seleção: “Não sabem contar??” Os demais não compraram sua ira. O cansaço deveria ser maior.

Começaram a escolher as pessoas. Nossas duas senhoras foram tentando entrar. Fui ficando meio para trás, já sem tanta certeza se lutaria para embarcar naquele vôo, constrangida em ver outros passageiros que também queriam embarcar. As chances se escassavam. As duas conseguiram ser escolhidas. O comissário perguntou se havia mais alguém com elas, como tinha feito com outros. Elas apontaram para a Marcela e para mim, que estávamos um pouco para trás, puxando-nos pela mão. Acabamos sendo admitidas no vôo!.. Com atraso devido a essa operação, partimos, enfim, de Salvador.

Lá fora, pela janela no lado oposto ao meu, avistei um céu estupidamente azul, em contraste com uma faixa de um alaranjado forte, do sol que estava para aparecer. Era a natureza nos pedindo para sorrir.

“Retornem o encosto da poltrona para a posição vertical”. A voz era outra. Será que essa seria mais eficiente? Desta vez, nossa aeronave aterrissou, obedientemente, em Vitória. E, às 7h50, aterrissamos em Guarulhos.

Será que nossas bagagens chegariam? Àquela altura, a maioria esperava qualquer coisa. Mas elas apareceram na esteira. Que alívio! Abraçamos-nos todos, vários amigos praticamente íntimos. Incrivelmente, conseguimos pegar o prometido  voucher para o táxi.

Lá pelas 9h eu chegava ao meu lar, doce lar!... E aqueles outros passageiros que não embarcaram conosco? Será que estariam chegando também? Desejei que sim.

Passou ou conhece alguém que tenha passado por algo similar??? Acho que não, hein!! Se sim, comente!!..

Da qualidade de serviço

Primeiro tomo a liberdade de me vangloriar. Mais um curso se foi. Fiquei especialmente satisfeita com minha performance. Vi que o pessoal saiu bem satisfeito. Normalmente, nos cursos que dou, os alunos devem preencher uma avaliação do professor. Sempre tenho o prazer de ser informada da boa avaliação que recebo. Neste curso não havia avaliação a ser preenchida. Mas meu verdadeiro prazer não é o de ser bem avaliada no papel. É sentir esse pessoal saindo feliz da sala de aula. É ver as carinhas satisfeitas. É ouvir um "Boa viagem, professora". É receber um abraço agradecido. Claro que qualquer pessoa deve se sentir bem ao ser bem avaliada. Mas quantos professores será que estão preocupados com o impacto de sua performance nas vidas de seus alunos?..

Quantos prestadores de serviço estão verdadeiramente preocupados com a satisfação de seus clientes??.. No vôo mencionado anteriormente, nenhum funcionário da TAM se mostrou minimamente constrangido pelo fato de passageiros terem tido que desembarcar, e ficar de pé por pelo menos meia hora, sem poderem fazer nada. Nenhum deles procurou amenizar a situação, buscando alguma forma de diminuir o desconforto. Enquanto estiverem com esse nível de consciência com relação ao cliente, as empresas brasileiras ainda não conseguirão decolar para tão longe...

Da solidão


Fui dar aula em São Luis do Maranhão. Aproveitei para assistir um DVD que me emprestaram: Tony Takitani (a resenha nesse link está muito básica, para não dizer tola...) com trilha de meu artista preferido, Ryuichi Sakamoto. Fantástico. Veja o trailer. Não sei onde se consegue aqui no Brasil. Esse que assisti foi adquirido em Londres. A solidão é presente. A circunstância da vida do protagonista o fez preferir a solidão. Mas, ao conhecer o amor, ele vê o quão ruim é estar só. 

Hoje liguei para dois amigos muito próximos para ver se me encontrava com eles ao chegar em São Paulo. Um deles estava com febre, de cama. Tudo bem, vamos então nos encontrar semana que vem. 
Estou só. Mas, depois de tudo o que aconteceu nos últimos tempos, ainda não me senti solitária. Não sei se isso é bom. Sinto-me independente demais.
Que bom que não vim a combinar nada, pois tive problema em meu vôo. Estávamos todos embarcados. Tinha reparado que o vôo estava lotado. Já tinham fechado a porta "em manual"...Surgiu um funcionário que anunciou: a aeronave estava com excesso de peso.  Sete voluntários teriam de desembarcar e voar no vôo seguinte. 
Pensei eu: não tenho problema nenhum em chegar mais tarde. Além de não haver ninguém me esperando, não me prejudicarei por chegar uma hora depois. Claro que adoraria chegar logo ao aconchego de meu lar, mas posso ir nesse vôo posterior. Mas, na verdade, eu gostaria é que as pessoas pensassem assim também, no dia em que eu não puder ajudar.
No fim, como era de se esperar, conheci pessoas interessantes, dentre as tais sete "voluntárias". Como seria o perfil de pessoas que se propõem a mudar de vôo para que ele possa partir dentro do que a lei manda? Pessoas objetivas, que desejam solicionar logo uma situação?  Pessoas medrosas ou não que desejam fugir de um vôo supostamente inseguro? Pessoas que desejam ajudar o próximo?? Que é isso!.. Pessoas que não têm o que fazer?!.. E eu? Onde me encaixo??
Bem, talvez não haja uma regra e seja uma perda de tempo ficar aqui tentando teorizar algo.

23 de janeiro de 2009

Chushingura - 忠臣蔵 e Giri to Ninjo 義理と人情


Outro dia assisti uma versão para cinema de "Chushingura", a famosa história dos 47 samurais que se vingam de seu senhor feudal, que foi injustamente condenado a cometer "seppuku". Eu já havia assistido a mesma história em Bunraku (teatro japonês de marionetes), produzida em Osaka, em 1985. Para compreender esse conceito de "giri to ninjo" é necessário se aprofundar bastante na cultura e filosofia japonesas, mas esse filme ajuda bastante. 

Uma conexão comigo é a data do famoso ataque: dia 14 de dezembro. E quem me introduziu pela 1a. vez a essa história, e a esses e tantos outros conceitos, e me ofereceu um livro "Chushingura" em 1984, foi meu querido amigo Eduardo Goo Nakashima, também um louco sagitariano do mesmo dia! Valeu!

21 de janeiro de 2009