Esteja sempre presente. Transforme o fel em mel. Compartilhe somente o que é bom. Seja nada.

29 de setembro de 2010

Cão vira-lata

No dia 12 deste mês saiu na Revista São Paulo, na seção 300dpi, o tema para a fotografia a ser enviada para a edição seguinte: "Cão vira-lata na rua". Logo pensei nesta fotografia. O dono e ele chegaram nessa esquina, num bairro em Paris. Eu estava sentada no bar daquela esquina. Eles se acomodaram, e deitaram. Eu já tinha tomado muitos copos de cerveja, por isso não achei que fosse conseguir tirar uma foto decente. Mas, depois, fiquei satisfeita com o resultado. Adoraria ter enviado para a revista, só que o prazo era até 4af e já era 6af quando li a seção...

A foto que foi publicada naquela semana foi de Rodrigo Kenji Ono, e o título dado foi: "O medo que tenho do bicho homem". Muito boa foto.
Mas gosto da minha também. Talvez por que sou eu a autora!.. rsrs Qual nome daria? Talvez conversando com a do Rodrigo: "Mas não largo o homem que é meu amigo".

29 de julho de 2010

Ichijitsu nasazareba ichijitsu kurawazu

Uma aluna perguntou-me sobre esse shikishi (espécie de quadro, no estilo japonês). Há um provérbio nele, cuja tradução literal seria: "Se não trabalhar por um dia, não coma por um dia".
Pesquisei para entendê-lo melhor. Descobri que foi originado num templo budista. Um velho monge, mesmo com idade bem avançada, insistia em limpar o templo. Como os discípulos não conseguiam convencê-lo a deixar tal atividade, esconderam dele os materiais de limpeza. Como não pode continuar com sua atividade, trancou-se desde então em seu quarto. Além disso, deixou de comer. Indagado pelos discípulos, gritou esse provérbio. Um trecho explicativo diz: “Vivemos graças a Deus. No dia em que não trabalharmos em prol da humanidade e, por isso, não tivermos nos iluminado (compreensão sobre o Universo), não poderemos nos alimentar.”

Num trecho de outro texto, encontrei: nós existimos nessa vida para fazer algo pelo Universo e, para tal, devemos usar todo nosso potencial físico e mental.

Obrigada, Hisae-san, por mais essa oportunidade para crescer!

10 de maio de 2010

Seja feliz

Ontem, junto com o Júlio, procurei passar com felicidade o Dia das Mães, apesar da saudade. A saudade boa. Hoje pela manhã ouvi Salomão Schwartzman na Band News, com sua "Crônica sobre minha mãe". Não consegui conter as lágrimas. Valeu. Amemos bastante e sejamos felizes!

21 de abril de 2010

The Road Not Taken


The Road Not Taken [por Robert Frost]

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

Conheci este poema em 1980, quando meu amigo Sung, então estudante de Medicina, me mostrou como sendo seu poema preferido. Na época, tive bastante dificuldade de compreendê-lo por completo, principalmente devido ao vocabulário, além da questão do conteúdo em si. Li muitas e muitas vezes desde então. Hoje consigo compreendê-lo por completo, até por que agora sei bem o que é ter que escolher um caminho!...

20 de abril de 2010

Tateba shakuyaku - Das peônias


立てば芍薬、座れば牡丹、歩く姿は百合の花』
Tateba Shakuyaku
Suwareba Botan

Aruku Sugata wa Yuri no Hana (Otome)

Aprendi hoje de uma aluna. Sua mãe, uma imigrante que foi retirada de seu mundo requintado, e que veio viver em terras brasileiras tão rudes, ensinou-lhe esse haikai que descreve uma linda mulher.
A peônia é uma flor esplendorosa, mas de vida efêmera. Nos haikais, carrega o sentimento de permanência e transição.

Em pé, parece uma peônia herbácea
Sentada, parece a peônia
Andando, parece um lírio.



13 de março de 2010

Impetuoso

Nada parecia detê-lo.

Lembro-me como se tivesse sido ontem. Conduzia-se sem medo. Transbordando segurança, ele não se intimidava com nada em volta. Foco total. Nada mais o interessava. Certamente não pestanejava, pois o tempo urgia. E penetrava com uma virilidade impressionante, mas sempre com cuidado. Que frio na barriga.

Pilotava ele uma ambulância em pleno horário de pico na via expressa. Foi alcançando distâncias em poucos segundos como eu nunca houvera visto.

Fantasias me assolaram. Como devia ser aquele homem?...

2 de março de 2010

Esta crueldade nossa...


A crueldade sem fim que cada um traz em si
de enterrar pelo peito os profundos abismos
que levamos ocultos na vida interior...

A crueldade sem fim que ao nos sentir sedentos
nos leva a contemplar lagos de encantamento
perdidos na alvorada de um celeste fulgor.

Crueldade que se esconde em cada coração,
faz arder os espasmos da mais pungente dor
ou revive nas asas da meditação...

Noite de 20 de julho de 1919

Pablo Neruda - in Cadernos de Temuco
Trad Thiago de Mello

1 de março de 2010

Em Lima

Pedira a ele uma omelete. Enquanto ele a prepararia, fui pegar um pão. Quando voltei, ele estava preparando uma. Deitou o ovo batido. Acrescentou a cebola, o tomate, o fungui. E o presunto. Eu tinha pedido para não colocar o presunto. Ah, não deve ser meu. Mas aí ele olhou para mim: “Ah, era sin ham!..”. “Tudo bem, não tem problema”, comentei eu, pois já havia outros hóspedes esperando pelos seus. Ele dobrou a omelete e fez que iria descartá-lo. Reforcei que estava bem. Ele me pediu para esperar que a entregassem na minha mesa. “Está bem.” Fui para lá e comecei a me servir. Logo veio minha omelete. Ao cortá-la, percebi que não havia presunto. Surpresa e feliz, virei-me para ele, lá longe. Ele olhou para mim de soslaio. Decerto, esperava que o visse. Com minhas mãos e cabeça, disse que não precisava ter feito aquilo. Ele lançou um sorriso tímido, mas satisfeito. Agradeci, baixando minha cabeça.

Fiquei feliz. Comecei bem o dia. Aquele sorriso gostoso me encantara. Ele fez aquilo por que estávamos num hotel cinco estrelas, num país de terceiro mundo? Ou por que ele é um trabalhador simples e correto? Ou simplesmente por que ele é uma boa pessoa? Ou mais simplesmente por que era o que se esperava que ele fizesse??... Não importava. Ficáramos ambos felizes, certamente.

Na manhã seguinte torci para que ele estivesse de novo no mesmo posto. Sim! “Por favor, lo mismo de ayer!” Com um sorrisinho, reforcei que era sem presunto. Fui pegar o pão. Voltei e ele estava prepararando dois. Para um deles, ele levou a colher com presunto, mas olhou para mim furtivamente, e parou. Com um sorriso no canto de seus lábios prosseguiu seu labor. “Muchas gracias!”, disse eu muito feliz, e me fui com minha omelete.

Lá fora, chegou a van que me levaria ao aeroporto. Pontualmente estávamos eu e uma argentina. Mas um terceiro hóspede não chegava. Vinte minutos depois, comentaram que ele “Ya vién”, pois “estava comprando algo pessoal” (!!). Não façam isso comigo! Detesto que me façam esperar por motivo idiota. Felizmente disseram que era para partirmos sem ele. Mas, logo no primeiro quarteirão, pediram para voltar, para capturar o retardatário. “Perdón!” disse ele sem o menor constrangimento. Ambas nos olhamos incrédulas e nos mantivemos caladas.

Que decepção! O mesmo local abrigando pessoas tão diferentes... Bem, mas nem soubemos de onde é aquele infeliz.

10 de fevereiro de 2010

Alma japonesa?

Outro dia uma aluna não nikkei me surpreendeu novamente.

Com seus 15 aninhos, contou-me que, mesmo antes de se tornar aficcionada por animes e mangás, compreendeu, de alguma maneira, algumas das diferenças culturais normalmente pouco compreensíveis aos assim chamados "ocidentais".
No Japão, reza a etiqueta que, ao ganharmos um presente, não é elegante já ir logo abrindo-o na frente da pessoa. Já no Ocidente, a mesma atitude pode denotar descaso, não é mesmo?
E a questão do "harakiri"? O suicídio do guerreiro. A ainda aprendiz de mulher me contou que, ao ouvir na escola as explicações sobre os "kamikazes" durante a 2a. grande guerra, ela compreendeu e concordou que não é possível viver uma vida sem honra. Ou se vive com honra, ou se morre honrosamente. Nada de viver a todo custo. Não conseguiu ser bem sucedido na missão à qual foi incumbido? Deve deixar a vida solenemente. Difícil mas gostaria de entender? Lendo ou assistindo "Shogun" talvez seria um bom começo!

18 de janeiro de 2010

Da fidelidade


Assisti outro dia "Hachiko monogatari". Ainda não assisti o remake estrelado pelo Gere "Sempre ao seu lado". Eu não sabia nada sobre esse cão akita até quando li a estória num livro-texto que uso com alunos de japonês. Só depois, quando um aluno foi para o Japão, fiquei sabendo que a estória é famosa por lá. Agora, com o remake, passa a ser conhecida no ocidente também! Leia mais em: http://www.clubedoakita.com.br/historia-de-hachiko-monogatari.html

O canto de um pássaro já me faz chorar facilmente. Durante este filme, confesso que acabei chorando quase o tempo todo, de emoção. É água com açúcar? Pode até ser. Mesmo assim, confesso aqui que adorei o filme! Particularmente gostei da forma como mostrou o afeto por parte do dono do cão. Na maioria dos filmes japoneses, só se mostram homens com fachada durona.
Meu Musashi, já com oito meses, também já tem se mostrado muito ligado a mim. Emociono-me só pelo fato de ele estar sempre por perto. Essa fidelidade, esse amor, só quem já teve um cão conhece, como disse Schopenhauer.