Brasil e Japão
Saiu no editorial da Folha de São Paulo já há um tempo (dia 19 de junho) mas, para quem não leu, segue aqui, pois acho que vale a pena:
AS COMEMORAÇÕES do centenário da imigração japonesa atingem seu ponto máximo durante esta semana, mas não se limitam a um prazo circunscrito nem aos eventos previstos pela agenda oficial. Repetem-se todos os dias, na verdade, na vida dos brasileiros.
Celebra-se o centenário toda vez, por exemplo, que uma criança brasileira -qualquer que seja a sua etnia- aprende suas primeiras lições de judô, ou que adolescentes de origem japonesa jogam futebol. Celebra-se toda vez que se lêem os "hai-kais" de algum poeta brasileiro, com sobrenome polonês ou espanhol.
Celebra-se toda vez que, na música "pop", nas artes plásticas, na criação de moda, numa sala de aula ou numa reunião de negócios, um modo de ver a vida, ao mesmo tempo brasileiro e japonês, se inventa e se renova. Difunde-se, então, sem que importe saber se são descendentes de africanos, de portugueses, de italianos ou russos os cidadãos que recebem seu influxo.
O que se comemora, assim, não é apenas uma admirável história de audácia, trabalho e adaptabilidade pessoal. Os cem anos de imigração japonesa também constituem exemplar caso de sucesso numa questão que afeta gravemente o mundo contemporâneo: o de como preservar diferentes identidades culturais num mesmo território sem que o particularismo, a intolerância e o conflito comecem a surgir. Ao contrário, as culturas só se fortalecem na troca e no diálogo
Só aos poucos, sem dúvida, a cultura brasileira e a japonesa se aproximaram e fertilizaram mutuamente; não faz muito tempo, muitas manifestações da estética, da culinária ou da espiritualidade japonesa ainda eram desconhecidas da maioria dos brasileiros. Foram só cem anos, afinal; o belo caminho iniciado no porto de Santos, em 1908, continua a ser trilhado.